quinta-feira, 10 de maio de 2012

Um pouco de poesia...


“Foi um dia. - Infanção mouro
Deixou
Alcáçar de prata e ouro.
Montado no seu corcel.
Partiu
Sem pajem, sem anadel.
Do castelo à barbacã
Chegou;
Viu formosa castelã.
Aos pés daquela a quem ama
Jurou
Ser fiel à sua dama.
A gentil dona e senhora
Sorriu;
Ai! que isenta ela não fora!
‘Tu és mouro; eu sou cristã’:
Falou
A formosa castelã.
‘Mouro, tens o meu amor;
Cristão,
Serás meu nobre senhor.’
Sua voz era um encanto,
O olhar
Quebrado, pedia tanto!
‘Antes de ver-te, senhora,
Fui rei;
Serei teu escravo agora.
Por ti deixo meu alcáçar
Fiel;
Meus paços d’ouro e de nácar.
Por ti deixo o paraíso,
Meu céu
É teu mimoso sorriso.’
A dona em um doce enleio
Tirou
Seu lindo colar do seio.
As duas almas cristãs,
Na cruz
Um beijo tornou irmãs.”

O Guarani, página 159 e 160, 17ª edição.

Um comentário:

  1. Essa "xácara" (é o nome do gênero da cantiga) mostra o vínculo do Romantismo com a cultura medieval. Vem da Idade Média portuguesa e trata do romance de uma portuguesa com um mouro. Aí se espelha a relação entre Ceci e Peri, também proibida porque Peri, a exemplo dos mouros na Idade Média europeia, não é cristão.

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