A batalha contra os aimorés estava travada. E pensar que meu irmão, Diogo, foi o responsável pelo sentimento de vingança desta tribo. Tudo por causa de um descuido. Por que ele matou aquela pobre índia? Desde de o dia em que ela morreu minha família passou a correr perigo. Mas, mesmo com todo o perigo que estávamos correndo, eu me sentia segura. Tinha Peri. Sabia que ele estava disposto a qualquer sacrifício para salvar minha
vida. E que não hesitaria em me ajudar. Mais uma vez.
Mais tarde, a batalha se sucedeu. Não consigo resgatar na minha memória, muitos dos fatos que me ocorreram. Apenas lembro que adormeci no braços de Peri sob o efeito do vinho que meu pai me obrigou a tomar. Despertei ao sentir um forte cheiro de fumaça. Olhei para o céu e observei que uma grande nuvem de fumaça o encobria. De longe, por entre a árvores meus olhos acompanharam aquele rastro até seu ponto de origem. Um forte desespero tomou meu corpo. Minha casa estava em ruínas. E minha família, morta.
Eu estava sozinha no mundo. Meus olhos, então encontraram com os de Peri.
"Peri não se animava a pronunciar uma palavra; via o que se passava na alma de sua senhora, e não tinha a coragem de dizer a primeira letra do enigma que ela não tardaria a compreender .(...) Por fim, a menina voltou-se para o índio com os olhos extremamente dilatados, os lábios trêmulos, a respiração presa, o seio ofegante, e suplicando com as mãozinhas juntas: Meu pai!... meu pai!... exclamou soluçando.Vencida pela dor, a menina apertou convulsamente o seio que lhe estalava com os soluços, e reclinando-se como o cálice delicado de uma flor que a noite enchera de orvalho, desfez-se em lágrimas."
Mais tarde, com o cair da noite, fui me acalmando e pude reconhecer a nobreza de meu pai e a coragem de Peri, que me salvou, mais uma vez. Agora, estava disposta a ficar do lado dele. Para sempre.
Entramos na canoa e seguimos viagem rumo ao desconhecido. Deixamos que as águas do Rio Paquequer nos guiassem, num horizonte sem fim.
Cecília